E se a sua exchange vazar seus dados (ou entregá-los "voluntariamente"), o quê fazer?
Problemas e soluções para quem usa plataformas com KYC.
Corretoras possuem seus dados. Não adianta, para fazer seu cadastro você precisa fornecer foto com RG ou CNH, selfie, documentos pessoais, declaração de impostos de renda, endereços, etc.
Além disso, temos visto que o governo têm pressionado essas plataformas a entregar também o histórico de movimentação de seus clientes. Convenhamos, nenhuma corretora vai segurar um processo pra aliviar o seu lado. Com isso apresento esse artigo, que avalia essas situações e algumas formas de mitigar esse problema.
O que pode identificar meu computador de forma única?
No universo digital em que vivemos, cada vez mais as nossas atividades online deixam "pegadas digitais". Quando navegamos pela web, acessamos sites ou simplesmente nos conectamos à internet, diversos elementos do nosso dispositivo podem ser coletados e potencialmente usados para nos identificar.
Elementos de Identificação: O seu sistema operacional, navegador, e até os números de versão dos softwares que você utiliza, podem parecer informações inofensivas à primeira vista. No entanto, em conjunto com outros dados, como o fuso horário, o idioma configurado em seu computador, o número de núcleos de CPU e a resolução de tela, eles formam uma combinação única. Esta combinação, em determinadas circunstâncias, pode ser usada para identificar o seu computador em meio a milhões de outros.
Por exemplo, pode parecer que muitas pessoas usam o Windows 10 com o navegador Chrome. No entanto, quando você combina essa informação com uma resolução de tela específica, um idioma de sistema menos comum e um fuso horário específico, a quantidade de dispositivos com essa combinação exata diminui drasticamente. Esse conjunto de informações é o que frequentemente chamamos de "digital fingerprint" ou "impressão digital digital".
Por que isso é importante? A capacidade de identificar um dispositivo de forma única pode ter implicações sérias para a privacidade. Se um ator mal-intencionado ou uma empresa coleta essas informações, elas podem ser usadas para rastrear suas atividades online, personalizar publicidade de maneira invasiva ou até mesmo para fins maliciosos, como fraudes, ataques direcionados e principalmente, cobrança de impostos ou qualquer outra burocracia que podem inventar.
Método PAC - Anonimato dentro da lei
Ao entrar no universo das criptomoedas, a privacidade e o anonimato se tornam ainda mais cruciais. No entanto, é fundamental entender que o anonimato ou privacidade não significam atividade ilegal.
Entendendo as Leis: No mundo das criptomoedas, o anonimato é muitas vezes visto com desconfiança, associado erroneamente a atividades ilícitas. No entanto, ter privacidade e anonimato é um direito fundamental e não significa que você está fazendo algo errado. É essencial conhecer as leis locais relacionadas às criptomoedas e garantir que suas atividades estejam em conformidade com elas. O respeito à legislação local não apenas protege contra possíveis repercussões legais, mas também reforça o argumento de que a privacidade é um direito e não uma maneira de esconder atividades ilícitas.
Um pequeno adendo que preciso fazer é sobre o compliance, o qual abordo muito em postagens em redes sociais. É importante sim seguir a lei e conhecê-la, porém chegará um momento onde a lei exigirá coisas tão absurdas que precisaremos reavaliar se seremos livre ou se seguiremos “de acordo”.
Protegendo seu Anonimato: Enquanto as pegadas digitais podem ser inevitáveis, existem maneiras de minimizar o rastro que deixamos online. Utilizar navegadores focados em privacidade, VPNs e outras ferramentas pode ajudar a mascarar ou alterar sua "impressão digital digital", tornando mais difícil a sua identificação e rastreamento.
Que informações podem ser armazenadas permanentemente ao conectar minha carteira a um site?
O ecossistema de criptomoedas trouxe uma revolução em termos de descentralização e controle sobre os próprios ativos. No entanto, a liberdade e autonomia proporcionadas pela tecnologia também vêm com sua cota de desafios, especialmente quando se trata de privacidade.
Como sua Wallet se Comunica com Sites: Ao interagir com um site, principalmente ao conectar uma carteira de criptomoedas, não estamos apenas transferindo ativos ou consultando saldos. Há uma troca substancial de informações acontecendo nos bastidores. A carteira (a depender da wallet) transmite não apenas detalhes da transação, mas também pode inadvertidamente revelar informações sobre o dispositivo e o software que você está usando. Isso é mais comum para quem usa wallets como MetaMask em sites de DeFi. Mas o ponto é válido para todos no geral.
A conexão da wallet à um site ou serviço envolve “smart contracts”, os quais nem sempre são auditados de forma correta, podem ser vulneráveis à ataques ou até mesmo “pegar” mais informações do quê você imagina permitir.
Rastreamento e "Super Cookies": Os "super cookies" são uma evolução dos cookies convencionais que usamos diariamente na web. Eles são mais invasivos e podem rastrear sua atividade entre diferentes sites, formando um perfil detalhado do seu comportamento online. Este perfil pode incluir quais sites você visitou, quanto tempo passou em cada um, entre outras atividades. Além disso, os IDs baseados no hardware do seu dispositivo, como a placa de vídeo, sistema operacional e até mesmo fontes instaladas, podem ser coletados e usados para criar uma identificação única. Essa prática vai além do simples rastreamento de atividades online e entra no domínio da "impressão digital do dispositivo".
Implicações para Usuários de Criptomoedas: Para um usuário comum da internet, isso pode significar publicidade direcionada mais agressiva ou invasiva. Mas para um usuário de criptomoedas, as implicações são muito mais sérias. Ao associar um perfil online detalhado a uma carteira de criptomoedas, atores mal-intencionados ou empresas podem determinar a riqueza, os padrões de gasto e até mesmo as intenções de investimento de um indivíduo.
Se alguém tiver acesso aos seus dados, principalmente se proveniente de corretoras, fica fácil inferir:
Horários comuns de transações
Valores enviados para a corretora
Valores retirados da corretora
Wallets para as quais você fez envio
Wallets das quais recebeu valores
IP de transações realizadas com data e horário
Método PAC - Ferramentas de Anonimato em DeFi
A crescente popularidade das plataformas DeFi (Finanças Descentralizadas) trouxe à tona a necessidade de ferramentas e práticas robustas de anonimato.
Por que o Anonimato é Vital em DeFi: Ao contrário das plataformas financeiras tradicionais, onde os dados do cliente são protegidos (pelo menos teoricamente) por regulamentações e padrões de privacidade, em DeFi, você é essencialmente seu próprio banco. Isso significa que é sua responsabilidade proteger sua identidade e transações.
Ferramentas e Práticas de Anonimato
Existem várias ferramentas e técnicas disponíveis que podem ajudar a proteger sua privacidade ao usar DeFi:
Navegadores Focados em Privacidade: Navegadores como o Brave ou Tor são projetados para proteger a privacidade dos usuários e podem ajudar a limitar a quantidade de informações compartilhadas com sites de terceiros.
VPNs: Uma VPN (Virtual Private Network) mascara seu endereço IP e pode ajudar a ocultar sua localização e atividades online. Recomendo sem receber nada em troca: Mullvad VPN.
Mixers: Estas são ferramentas que misturam suas transações de criptomoedas com outras transações, tornando difícil para alguém rastrear a origem e o destino dos fundos.
Ao aprender e aplicar essas ferramentas e técnicas, você pode navegar no mundo DeFi com mais confiança e segurança.
Método PAC - Metodologia da Privacidade
A privacidade não é algo que se consegue apenas com a instalação de um software ou o uso de uma ferramenta específica. Requer uma abordagem holística e uma metodologia bem definida.
Navegadores e Extensões Dedicados: A primeira linha de defesa contra rastreamento é o navegador que você usa. Navegadores focados em privacidade, como o Brave ou o Tor, são projetados para bloquear rastreadores e proteger a identidade do usuário. Extensões como uBlock Origin ou Privacy Badger também podem ser adicionadas para melhorar a proteção.
Compreendendo Mecanismos de Rastreamento: Não basta apenas usar as ferramentas certas; é vital entender como funcionam os mecanismos de rastreamento. Isso inclui cookies, transações em blockchain aberta, wallets e endereços, scripts de terceiros e impressões digitais. Ao compreender estas técnicas, você pode tomar decisões informadas sobre quais sites visitar, quais serviços usar e como configurar seu software.
Práticas Recomendadas: Adote uma mentalidade de "menos é mais". Evite compartilhar informações pessoais desnecessárias online. Quando se inscrever em serviços ou fazer compras, forneça o mínimo de detalhes possível. Use pseudônimos ou informações fictícias quando a precisão não for crucial. Outro grande detalhe: seu endereço de Bitcoin ou Ethereum, ao ser divulgado como seu, pode ser facilmente rastreado até você, além das pessoas poderem ver o quanto você recebeu e enviou de dinheiro por aquele endereço.
Método PAC - OPSEC em Criptomoedas
Na revolução das criptomoedas, uma das maiores promessas é a liberdade financeira e a autonomia das instituições tradicionais. No entanto, com essa liberdade vem a responsabilidade de garantir a segurança e privacidade de suas transações e ativos. No reino das moedas digitais, a OPSEC (Operações de Segurança) é vital.
O que é OPSEC em criptomoedas?
Em termos simples, OPSEC em criptomoedas refere-se à arte e ciência de proteger suas transações e identidade no espaço criptográfico. Enquanto as transações de blockchain são frequentemente elogiadas por sua transparência, essa mesma característica pode ser uma vulnerabilidade se a privacidade não for mantida.
Uso de VPNs: As Redes Privadas Virtuais (VPNs) são ferramentas essenciais para proteger sua identidade online. Ao usar uma VPN, seu endereço IP real é ocultado e seu tráfego de internet é criptografado, tornando difícil para terceiros rastrear suas atividades ou identificar sua localização geográfica. Ao realizar transações com criptomoedas, especialmente em exchanges, uma VPN é uma camada adicional de proteção.
Um pequeno detalhe é que TODAS as transações com MetaMask, necessariamente, captam seu IP. É importante que você saiba meios de se proteger disso. Trago alguns aqui.
Evitar o Reuso de Endereços: Cada vez que você faz uma transação de criptomoeda, um novo endereço pode ser gerado para essa transação (caso sua wallet tenha essa opção). Reutilizar endereços pode tornar seu histórico de transações transparente para observadores externos, tornando mais fácil para eles rastrear seus hábitos e ativos. A prática recomendada é usar um novo endereço para cada transação.
Metadados e Seus Perigos: Quando você realiza uma transação, informações adicionais, chamadas metadados, são geradas. Isso pode incluir detalhes como o momento da transação ou o dispositivo usado. Em mãos erradas, esses metadados podem ser usados para criar um perfil detalhado sobre você, comprometendo sua privacidade e segurança.
Herança e Doações de Bens
Em nossa jornada digital, coletamos e acumulamos uma quantidade significativa de ativos digitais. E como qualquer outro bem, é essencial pensar sobre o que acontecerá com eles após nosso tempo.
Planos de Herança Digitais: Como você garantiria que seus entes queridos tenham acesso a seus ativos digitais após sua partida? Criar um plano de herança digital seguro é vital. Isso pode envolver armazenar informações cruciais, como chaves privadas, em locais seguros e passar instruções detalhadas para entes confiáveis.
Fazendo Doações Anônimas: Em algumas situações, você pode querer fazer doações de seus ativos digitais sem revelar sua identidade. Seja por razões pessoais, filantrópicas ou simplesmente para manter sua privacidade, é possível doar criptomoedas de maneira anônima. O Método PAC detalha como fazer isso, garantindo que sua identidade permaneça protegida enquanto você pratica a caridade.
Conclusão
No mundo em rápido crescimento das criptomoedas, a privacidade e a segurança emergem como questões centrais para todos os participantes, desde o entusiasta casual até o investidor ávido. Enquanto as tecnologias de blockchain e criptomoeda trazem uma promessa de autonomia financeira e liberdade de intervenções centralizadas, elas também carregam riscos inerentes quando se trata de privacidade dos dados e segurança dos ativos.
Ao longo deste artigo, destacamos a importância do anonimato e como ele pode ser mantido dentro do âmbito legal. Abordamos ferramentas e práticas em plataformas DeFi, a necessidade de uma metodologia rigorosa de privacidade, as nuances da OPSEC em criptomoedas e a preparação para a eventual transferência ou doação de ativos digitais. Todas essas informações compõem o "Método PAC", uma abordagem abrangente para navegar com segurança e privacidade no ecossistema de criptomoedas.
No entanto, é crucial entender que a segurança e a privacidade são jornadas contínuas. Com o avanço da tecnologia e as crescentes ameaças cibernéticas, é imperativo estar sempre atualizado, adaptando-se e aprendendo. E enquanto ferramentas e métodos são essenciais, o verdadeiro poder reside na educação e no entendimento consciente dos riscos e oportunidades associados.
Se você está iniciando sua jornada no mundo das criptomoedas ou procura aprimorar suas práticas de privacidade, esperamos que este artigo tenha fornecido insights valiosos. Lembre-se de que, em um mundo digital, sua privacidade e segurança estão nas suas mãos. Com as informações e ferramentas certas, você pode navegar com confiança, sabendo que está tomando as precauções adequadas para proteger seus ativos e sua identidade.
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